Posto da Mata é uma pequena cidade do Extremo Sul baiano, localizada a poucos quilômetros da divisa Bahia/Minas. O nome tem sua origem ligada ao posto da estação de ferro da antiga EFBM, que impulsionou a criação do lugarejo.
Era início dos anos 70, e não havia energia elétrica ainda no lugar, as geladeiras funcionavam a querosene e o rádio era a pilha, as famosas amarelinhas da Rayovac.
À noite, a única distração de que se dispunha era o rádio, daí que me lembro bem da “Voz do Brasil”, sempre às 19:00h, e do “Globo no ar”, um noticiário que era veiculado de hora em hora pela rádio Globo do Rio de Janeiro, e que meu pai sempre fazia questão de ouvir.
Devido a isso, o rádio teve uma presença forte na minha infância, o que foi bom, pois nesse tempo, as rádios, a maioria da capital carioca, passavam boas músicas, geralmente os grandes clássicos da MPB, como Gil, Caetano e Chico Buarque, além de sambistas como Paulinho da Viola e Benito Di Paula.
Com a falta da energia elétrica, alguns moradores que moravam na parte central da pequena cidade, se reuniram com o padre local, para ver o que podiam fazer. Foi quando o padre, que todos chamavam de “Frei Cleto”, de origem holandesa, propôs uma espécie de vaquinha, onde cada um contribuía para a compra do querosene que abastecia um motor que gerava energia e que ficava em sua residência.
Ficou combinado também, que os moradores não podiam usar chuveiro elétrico e nem liquidificador, pois demandavam muita energia, e poderiam causar blackout no sistema.
Assim foi feito. Ocorre que minha mãe havia comprado um liquidificador Walita em Nanuque, e naquela época, isto era uma sensação. Um pouco receosos, mas movidos pela novidade, resolvemos bater um suco de laranja no tal aparelho.
Tudo corria bem, mas quando já ia desligar, tudo ficou às escuras, e Frei Cleto saiu de casa em casa, para descobrir quem tinha ligado o liquidificador.
Com tudo às escuras, naquele dia, todos fomos dormir mais cedo.
Erivan Santana. In: Tempos Sombrios: Instantâneos da realidade, 2022
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