Corria o ano de 1992, e a cidade de Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia, estava movimentada, tendo em vista as eleições municipais daquele ano, marcadas para outubro, após apenas sete anos de emancipação política de suas antigas sedes, Alcobaça e Caravelas.
Havia dois candidatos - Timóteo Brito (in memoriam) - era remanescente da política tradicional baiana, ainda dos antigos quadros da ARENA. O outro – Ubaldino Júnior - embora aliado aos novos partidos políticos que surgiam, pós-redemocratização do país, era muito ligado ao MDB, e era reconhecido na cidade como representante das classes populares - os “Pés de poeira”.
O nome teve origem nas passeatas e carreatas políticas que ocorriam na Av. Presidente Getúlio Vargas, que ainda sem asfaltamento, gerava muita poeira e lama, a depender do tempo.
Ocorre que nesse ano, estava em curso o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, mas a população se sentia coagida em não se manifestar, já que este era coligado ao governador do Estado à época, Antônio Carlos Magalhães.
Aconteceu também um ataque a bomba em uma emissora de rádio no centro da cidade, e para piorar a situação, ocorreu um fato lamentável e até hoje lembrado pela população, que foi o desaparecimento do radialista e jornalista Ivan Rocha.
Eram tempos difíceis e amedrontadores, de intensa polarização, brigas, desentendimentos e troca de acusações, em muito lembrando a antiga “política dos coronéis”.
Diante deste contexto, a juíza eleitoral Drª Kátia Suely, proibiu manifestações na Av. Presidente Getúlio Vargas e a suspensão da campanha político eleitoral, a partir do dia 29 de setembro.
Em despacho enviado à coligação “Frente Popular”, a magistrada fechou as três rádios da cidade, que ficaram limitadas a tocar apenas músicas e propagandas comerciais, até o dia 03 de outubro de 1992, às dezoito horas.
Finalizada a disputada eleição, com a vitória de Timóteo Brito, o tio do candidato derrotado, que era deputado federal em Brasília, Uldurico Pinto, protestou, denunciando possíveis indícios de fraudes eleitorais, além do que, as rádios ficaram impedidas de noticiarem o fato inédito no país, o impeachment do então presidente da república.
Eu vi, eu estava lá, para testemunhar e contar mais este capítulo da memória teixeirense – a história em cima dos fatos!
Erivan Santana. In: Tempos Sombrios: Instantâneos da Realidade, 2022
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